segunda-feira, 5 de junho de 2017

Falsa dicotomia: esquerda e econômia

Dinheiro não dá em árvore - dicionário do óbvio. E a esquerda sabe disso (ou pelo menos deveria saber). Primeiro por que não é algo excludente ser de esquerda e entender que dinheiro estatal não é infinito. Segundo, introdução a economia básica que a militância e os partidos engajados deveriam informar.

Pois bem, dito isto, por que a esquerda teima em defender plataformas políticas, no caso do Brasil, esgotadas? Apostando mais uma vez no governo Lula 2018 ou em propostas distantes da realidade, Antes, não defendo aqui políticas econômicas de austeridade impostas pelo governo Temer.

O que precisamos compreender é que mudanças radicais à esquerda não estão na agenda estruturante do mundo, muito menos no Brasil e ainda bem menos na cabeça dos trabalhadores. Há uma mudança de paradigma até entre as classes populares - querem empreender. É certo que tal questão envolve dinâmicas ideológicas individualistas que ditam o dever ser das pessoas, mas para além disso, empreender se tornou uma questão de sobrevivência, um dinheirinho a mais, livres de patrões arrogantes. Eu arrisco dizer que são uma nova classe (não no sentido marxista) em busca de sonhos que o capitalismo à brasileira privou os menos favorecidos. É questão pragmática. As pessoas cansaram de esperar de políticos de políticas públicas. E não as culpo.

Mas voltando, a esquerda precisa ser realista. Isso não significa abandonar a perspectiva de superação do sistema capitalista, mas de compreender que as pessoas não vão esperar pela revolução - elas querem comer, viajar, ter uma casa própria agora e lembrando: não acreditam mais no Estado.

Nesse sentido, a esquerda precisa discutir economia. Descer aos números e não ignorá-los, sem contudo, ficar refém deles. O que deixou o Brasil onde hoje está não foi só a crise mundial ou a dívida devida aos banqueiros, mas a irresponsabilidade populista, que poderia ter antecipado os ajustes e os tornado mais palatáveis. A esquerda precisa continuar sonhando e pode viver pensando na superação do capitalismo, mas para isso, precisa ter casa, comida e cama.